A Solidão e a Dor

Morar sozinho tem um lado ótimo, que é ter tudo exatamente do seu jeito e ninguém prá dar pitaco nas suas loucuras mais loucas dentro de casa (o problema é que você pode se perder um pouco na falta de regras, tipo comer o dia inteiro ou deixar sempre a roupa meio jogada – não que eu faça qualquer uma dessas coisas). Mas se tem um lado péssimo de se morar só... é quando vem a dor.

Dor de dente, dor de ouvido, mal jeito nas costas, topada de dedinho na quina, dor de cabeça, dor de barriga ou pé torcido são dores prá se ter em comunidade, porque só o fato de virar pro lado e dizer “meu dente tá doendo prá baralho” ou “acho que eu vou morreeeeeeeer de tanta dor” já são, por si só, fatores aliviantes prá dor. Mas quando você passa o pé do sofá sobre o seu dedo do pé, perde a unha e só tem o seu cachorro prá ouvir o seu UIVO de dor, é triste, gente, e parece que dói mais.

A solidão amplia a dor e diminui ao mesmo tempo, é um paradoxo interessante: quanto mais você fala e reclama da dor prá um terceiro, parece que ela se dilui e ameniza, mas quando você não tem prá quem reclamar ou chorar, a dor perde o sentido, porque, né, se chorar resolvesse, o Chaves não morava num barril.

Fora que é reconfortante quando alguém pergunta “e o seu dente, melhorou?”, por isso é muito importante reportar a sua dor por telefone aos seus familiares, prá se sentir amado. Como ninguém viu o que ocorreu, você também pode dramatizar e dar emoção à sua dor, você pode, por exemplo, dizer que se contorceu à noite na cama e chorou baixinho, prá fazer a pessoa se solidarizar e sentir aquilo com você, isso vai amenizar a sua dor e preencher algum vazio existencial que você possa ter.

Ah gente, tentei satirizar a situação (também ajuda a reduzir a dor), mas é assim mesmo: o que vier a acontecer, pode doer,mas você vai se virar, vai relatar tudo pro balconista da farmácia, pode até chorar, mas (provavelmente) você vai sobreviver.